quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O fardo de ser quem se é


Se você não é dos que comenta, pelo menos já ouviu frases de julgamento ou gozação entre pessoas, digamos, diferentes. E nem é preciso ser muito diferente assim. Ainda hoje neste mundo globalizado, onde tudo circula de maneira absurdamente rápida e superficial, com tanta informação e diversidade, não é difícil encontrar pessoas olhando torto para você ou para aquele cara ‘esquisito’. Uma vírgula fora de lugar soa esquisito para quem gosta da língua.

Esquisito para mim é seguir uma sociedade com comportamentos padronizados, seguir modas e tendências sem ao menos se perguntar se você gosta daquilo. Esquisito para mim é chegar numa festa e ver que todos se vestem igual e dançam nos mesmos passos, pois quem o faz de outro jeito não está de acordo. Esquisito para mim é você estar numa festa onde as pessoas são o que são, estão ali porque gostam, e aquela conhecida esbarra em você e te pergunta: “nossa, você por aqui?” e quando eu digo que sempre gostei daquela música e daquele clima onde não há imposições de padrões a seguir, ela me responde que está achando tudo aquilo muito esquisito. Oras, esquisita é ela que está ali e nem sabe o que está acontecendo.
A impressão que se passa ao ver tamanha diversidade nas ruas metropolitanas é de que as pessoas estão assumindo mais suas identidades. Eu, por outro lado, vejo estas tribos como um desespero para encontrar uma identidade, mas quando outro mundo se abre, o olho automaticamente entorta. 

O ser humano é plural e multifacetado, e isto, de uma maneira contraditória, é o que nos torna únicos. Por isso, esquisito mesmo é as pessoas acharem que são mais e melhores do que outras apenas porque elas são diferentes. Se dependermos desta involução, continuará pesado o fardo de ser, verdadeiramente, quem se é.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quando as diferenças desaparecem


Ele estava lá, sentado na mesinha americana, tomando seu uísque adulterado, com seu velho óculos manchado, com uma camiseta que estampava um homem inteligente.

Ela estava lá, sentada ao lado dele, com brilhantinas e adereços que a enfeitavam, escondendo sua real personalidade.

Os dois, nitidamente, conseguiam expor suas individualidades naquele ambiente fétido e escuso, compactuando suas amarguras. Ser conivente era um conforto. Ele reclamava que ninguém sentia atração por ele, sentia-se útil apenas para pagar a bebida aos amigos. Ela, por sua vez, reclamava que era desejada por muitos, mas sentia-se inútil, pois sabia que a aurora anunciava o fim de toda essa atração.

Ninguém jamais havia demonstrado algum sentimento por eles que não o interesse. O apelo então era de serem verdadeiros um com o outro naqueles extensos minutos em que trocavam confidências, onde as diferenças desapareciam.

Mas logo outro endinheirado acenaria pra gostosa e o coitado ficaria sozinho com seu uísque adulterado. Os dias voltariam ao normal, onde ele continua gordo e ela, puta.